sexta-feira, 13 de outubro de 2017

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Em certas ocasiões, o destino se assemelha a uma pequena tempestade de areia,
cujo curso sempre se altera. Você procura fugir dela e orienta seus passos
noutra direção. Mas então, a tempestade também muda de direção e o segue.
Você muda mais uma vez o seu rumo. A tempestade faz o mesmo e o acompanha.
As mudanças se repetem muitas e muitas vezes, como num balé macabro que se
dança com a deusa da morte antes do alvorecer. Isso acontece porque a
tempestade não é algo independente, vindo de um local distante. A tempestade é
você mesmo. Algo que existe em seu íntimo. Portanto, o único recurso que lhe
resta é se conformar e corajosamente pôr um pé dentro dela, tapar olhos e
ouvidos com firmeza a fim de evitar que se encham de areia e atravessá-la
passo a passo até emergir do outro lado. É muito provável que lá dentro não
haja sol, nem lua, nem norte e, em determinados momentos, nem hora certa. O
que há são apenas grãos de areia finos e brancos como osso moído dançando
vertiginosamente no espaço.

Haruki Murakami

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